A idolatria é um dos pecados mais terríveis listados na Bíblia, porque 
consiste em dar glória e veneração a algo ou alguém que não seja o 
próprio Deus, o único que é digno de toda honra, toda glória, todo 
louvor e toda adoração. Entretanto, apesar de tão claro, este é um dos 
pecados mais praticados e mais ignorados em nossos dias no meio 
evangélico. É triste dizer, mas está se tornando cada vez mais comum 
jovens evangélicos que desenvolvem verdadeiros comportamentos 
idolátricos em relação a pessoas e coisas que, obviamente, não devem 
receber a nossa adoração.
 
Idolatria não é só se prostrar diante de um ídolo de pedra, barro ou 
metal. Coisas ou pessoas também podem se tornar ídolos em nossa vida, 
quando começam a ganhar em nosso coração um lugar que não deveriam ter.
Uma coisa é gostar, admirar e respeitar; outra bastante diferente é 
“endeusar”, idolatrar. Logo, segue o alerta: cuidado para que o mero 
gostar e admirar não dê lugar à adoração por pessoas e coisas!
Veneração a cantores
Infelizmente, hábitos próprios do público do meio artístico secular 
estão cada vez mais sendo reproduzidos no meio evangélico brasileiro, 
devido ao crescimento e à maior visibilidade que os cantores evangélicos
 têm ganhado midiaticamente nos últimos anos, e que é decorrente do 
avanço do mercado fonográfico evangélico brasileiro.
Não, não há nada demais em gostar de um determinado cantor ou cantora 
evangélicos, de admirá-lo(a), de sentir-se inspirado positivamente pelo 
seu ministério, de orar por ele ou por ela, ou mesmo, eventualmente, de 
fazer aquela “tietagem” básica: elogio, abraços, conversa e fotos. O 
problema surge quando, por exemplo, aquela pessoa começa a se tornar o 
centro de tudo, até mesmo ocupando o espaço que deveria ser do culto a 
Deus.
Quando o vínculo emocional da pessoa com aquele cantor ou cantora que 
são admirados começa a se tornar exagerado, afetando todo o 
comportamento dessa pessoa, então a coisa já descambou para a idolatria.
Quando a presença daquela pessoa admirada no culto passa a ser mais 
importante do que o culto em si, então já estamos diante de um caso de 
idolatria.
Quando a ordem do culto começa a ser quebrada em nome de um frenesi 
enlouquecido diante do cantor admirado, então estamos diante de um caso 
clássico de idolatria dentro da igreja.
Quando tudo o mais é menosprezado no culto diante da presença do cantor
 ou cantora admirado(a), desde a liderança da igreja até o culto em si, 
então a coisa já saiu fora do controle.
Lembremo-nos que há o fogo estranho e há o fogo de Deus; há a 
verdadeira adoração e há a mera agitação carnal confundida com adoração a
 Deus. E não, não estamos condenando aqui o adorar a Deus com hinos 
animados, de celebração e alegria! Tudo isso é maravilhoso e legítimo! 
Estamos falando do perigo de o culto se tornar um mero show, de o local 
de adoração a Deus se tornar um ambiente de torcida organizada, de o 
púlpito se tornar um palco onde o foco é o homem, e não Deus, e isso tem
 a ver tanto com a atitude de quem ministra o louvor como com a atitude 
daqueles que são ministrados, daqueles que estão ali para participar 
daquele momento.
Quando o culto a Deus dá lugar ao show do homem, então estamos diante 
de um pecado. Isso desagrada a Deus, ofende-O profundamente. Podemos 
chamar isso do que quisermos, mas não de culto a Deus, pois já deixou de
 sê-lo há muito tempo. É culto ao homem, é idolatria versão evangélica.
Os limites da “tietagem”
Há limites para a tietagem. E quando é que a gente sabe que estamos 
passando dos limites? Dá para perceber isso facilmente quando:
1) A mera apresentação marcada daquele cantor ou cantora em algum lugar é tratado como “o maior acontecimento da minha vida”;
2) Achamos que podemos fazer qualquer coisa, até mesmo mentir, deixar 
de lado compromissos e responsabilidades, desobedecer os pais e 
liderança, magoar pessoas, prejudicar os estudos ou perder o emprego, 
para conseguirmos estar perto do cantor(a) admirado(a);
3) Deixamos de dar atenção ao culto a Deus para nos focarmos naquela pessoa admirada quando ela está no culto;
4) Ficamos descontrolados e histéricos (e não meramente emocionados) só por estarmos na presença da pessoa admirada;
5) Gastamos todo o 
dinheiro
 com materiais relacionados àquela pessoa;
6) Só usamos o computador e lemos revistas, jornais e livros para saber tudo sobre aquela pessoa;
7) Afastamo-nos das pessoas que não compartilham a mesma paixão ou mesmo passa a antipatizá-las;
8) Só gostamos de falar daquela pessoa admirada;
9) Tomamos atitudes radicais em nome daquela pessoa admirada (há até quem faça tatuagens da pessoa no corpo);
10) Valorizamos mais o nosso interesse por aquela pessoa do que qualquer outra coisa.
Há ainda o caso mais extremo daqueles que perdem o interesse pelas 
pessoas do dia-a-dia só para ficar mergulhado em seus sonhos sobre a 
pessoa admirada. Todos esses casos são doentios, próprios da idolatria, 
fazendo mal tanto ao nosso espírito quando à nossa alma, tanto às nossas
 emoções quanto à nossa vida espiritual.
Quem vive assim não cresce, só se infantiliza, e muitos acabam 
prejudicando a sua vida como um todo. Ora, somos cristãos! E cristãos 
não são idólatras. O cristão só adora, venera e exalta a Deus. Só Ele é a
 razão do nosso viver, o sentido e o motivo da nossa vida, pois foi Ele 
quem nos criou e fomos feitos para Ele, portanto nos realizamos nEle. 
Nada nem ninguém deve ocupar o lugar que Deus deve ter em nossas vidas!
Idolatria a coisas
Mas, não só a idolatria a pessoas tem feito males na vida de muitos jovens. A idolatria a coisas também.
Há gente que é viciada em internet, fazendo com que toda a sua vida 
gire em torno do mundo virtual. A maior parte do dia é dedicada à 
internet, prejudicando o sono, a saúde, os estudos e o relacionamento 
com Deus, com os pais, com os irmãos e com os irmãos em Cristo.
Há outros que são viciados em jogos eletrônicos, prejudicando seus 
estudos e o seu crescimento espiritual. Aliás, por falar em vida 
espiritual, esta é uma reflexão importante para ser feita a esta altura:
 Afinal, como vai a sua vida espiritual? Como vai o seu relacionamento 
com Deus?
Qual foi a última vez que você gastou tempo com Deus em oração?
Qual foi a última vez que você abriu a Bíblia para estudá-la ou para lê-la devocionalmente para a tua edificação espiritual?
Qual foi a última vez que você evangelizou alguém?
Qual foi a última vez que você dedicou tempo para ajudar as pessoas?
Será que a maior parte do seu dia é dedicada a coisas que realmente valem a pena ou só a futilidades?
Todos nós devemos ter tempo para o ócio, isto é, para coisas menos 
sérias e divertidas. Porém, nunca as amenidades devem ter a primazia 
sobre a nossa vida. Deus deve ter a primazia, depois a nossa família, e 
em seguida os nossos relacionamentos com os irmãos em Cristo e com a 
igreja. As amenidades devem vir em quarto lugar na nossa escala 
hierárquica de valores.
Outros casos sutis de idolatria
O apóstolo Paulo afirma em Colossenses 3.5: “Mortificai, pois, os 
vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, a 
afeição desordenada, a vil concupiscência e a avareza, que é idolatria”.
 Veja: Paulo fala de “afeição desordenada” e de “avareza”, que “é 
idolatria”. Avareza é apego às coisas materiais. Quando valorizamos mais
 os bens materiais do que o espiritual, estamos de cabeça para baixo 
espiritualmente. Estamos longe de Deus!
O profeta Samuel falou também sobre outro tipo de idolatria sutil no 
meio dos crentes. Disse ele, conforme registrado em 1 Samuel 15.23: 
“Porque a rebelião é como pecado de feitiçaria, e o porfiar é como 
iniquidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do Senhor, Ele
 também te rejeitou a ti...”.
Ora, o que significa a palavra “porfiar”? Ela quer dizer, segundo o 
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, “discutir com calor”, 
“insistir”, “teimar”, “competir” e “disputar”. Ou seja, insubordinação, 
disputa entre irmãos, espírito de competição dentro da igreja, teimosia,
 arrogância, contenda, tudo isso, afirma Samuel é pecado de idolatria. 
Você já parou para pensar nisso?
 
Paulo afirma que uma das características do Anticristo, e que é própria
 do espírito do Anticristo, é se levantar “contra tudo o que se chama 
Deus, ou se adora” e querer “se assentar como Deus, no templo de Deus, 
querendo parecer Deus” (2Ts 2.4).
Não se engane: há muita gente que começa bem, mas acaba, infelizmente, 
perdendo a visão espiritual e, por isso, tem o seu coração cheio de 
altares. É gente que afirma que serve a um único Deus, mas possui um 
coração idólatra, repleto de “deuses”, quando também não adora a si 
mesmo.
Não à idolatria
Que após esta matéria, você possa parar um pouco para refletir melhor 
sobre a sua vida espiritual. O cristão não deve ser dominado ou 
escravizado por nada. Apenas Deus deve ser o Senhor soberano de sua 
vida.
Fora idolatria! Fora vícios! Viva à liberdade em Cristo – uma liberdade
 com responsabilidade, e que tem como foco principal o próprio Deus, o 
Senhor da vida!
Silas Daniel é pastor, jornalista, chefe de Jornalismo da CPAD e escritor
(Publicado originalmente na edição 94 da revista GeraçãoJC, da CPAD, edição de maio/junho de 2013).